Cheguei ao fundo do poço: ao fundo do álcool, ao fundo dos cigarros baratos, ao fundo da cocaína, ao fundo da sarjeta- que eu chamo formalmente de cama. Minha cama, minha sarjeta. Bebo no gargalo e por falta de um meio fio a céu aberto, me jogo no colchão de molas de novecentos reais e finjo que é um pedaço de concreto pintado de branco. Perco a linha, literalmente- o álcool acaba com a minha memória recente. Acendo um cigarro Vogue azul e descubro que o sabor menta é uma porcaria, mas continuo a fumar. Levanto da minha sarjeta, chuto algumas garrafas pra longe, procuro o Abbey Road em vinil que eu te roubei em todas as prateleiras, estantes, gavetas, armários. Acho graça quando eu o encontro debaixo das minhas calças jeans e o coloco para tocar no último volume e canto bem alto de propósito para o vizinho do lado tocar minha campanhia e dizer: "Vou chamar a polícia!" e então eu vou dizer: "Chame, chame a polícia, chame o teu advogado, chame o presidente, chame o Papa, chame até Jesus, quero mostrar para ele que posso contrariá-lo: transformo sangue em vinho. É fácil, eu te ensino: encontre uma pessoa, se apaixone loucamente, jantem juntos numa noite fria de junho, bebam umas três garrafas de Pinot Noir, fiquem bêbados, transem, namorem, se apaixone mais loucamente ainda e pronto! De repente você não tem mais sangue, só Pinot Noir correndo nas tuas veias. Ou Pinot Gris. Ou Pinot Meunier... pode escolher."
Mas a campainha não é tocada. A música pára. A agulha está em pé. Eu, meio tonta meio eufórica, coloco o disco para tocar outra vez, acendo outro cigarro mentolado, bebo o vinho no gargalo e me jogo, outra vez, na sarjeta: tudo de novo.
domingo, 31 de maio de 2009
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situação caótica o_0
ResponderExcluir[gosto desse teu jeito de escrever.]
bjos!
vou colocar meu abbey road agora para tocar!
ResponderExcluirmais cigarro mentolado não curto...
Homens...
Também não ando muito legal!
Magoada demais..
Adorei o texto, tão intenso!!
ResponderExcluir=*
mais um capítulo..
ResponderExcluirdessa história sem fim
que o amor só muda de nome,
mas dói, machuca e arrebenta por igual, uniforme. acendo no meu light minha esperança e ela, assim como ele, é breve e é consumida.
:*
Ohh cellls! Este texto tá demais!
ResponderExcluirpesado o texto hein...... mas otimo....^^
ResponderExcluirte hj eu nao sei se e verdade ou contos kkkkk^^
http://mysolitudewords.blogspot.com/
essa sua história era a minha vida a alguns meses atras. hahahaha.
ResponderExcluirmuito bom Jú.
eu adoro seu blog, loucamente.
“Deus é amor”
ResponderExcluirI João 4:8
O AMOR QUE NUNCA SE ACABA
“Porque Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna”
João 3:16