sexta-feira, 17 de abril de 2009

Vital

Atendi muitos telefonemas dizendo "alô" e ouvindo um "vai passar, eu te juro que vai passar" em resposta. Eu não sabia se sorria se chorava se contava longas divagações ou se apenas dizia um simplório "obrigada". Quis abraçar tanta gente pelo telefone, assim, apenas com a voz, com a mão firme no gancho e com as orelhas quentes de tanto som.
Hoje quem liga sou eu- conto dos meus dias, tão calmos, tão em paz. Sento no grama e leio os clássicos, o vento deixa meu cabelo mais desarrumado do que ele já é, sento na escrivaninha e faço meus cálculos de estequiometria, levo meu cachorro pra tomar um sol, pinto minhas unhas, deito na cama e deixo o som do rádio baixinho. Abro a janela às seis e meia da manhã e ainda consigo ver o sol nascer, gosto da brisa fria do outono, coloco um casaco, vou pra rua, cumprimento vizinhos que eu sequer sei o nome, sorrio para o jardineiro que me entrega um lírio e sempre me diz: "tão branquinha, com esses olhos verdes, o rosto corado... parece uma bonequinha!", dou uma risada e lembro do meu avô e dos vinis dele que eu peguei sem a minha vó perceber depois que ele nos deixou.
Volto pra casa, tiro o pó dos vinis, dos livros antigos, das fotos bonitas, dos móveis. Vejo o sol das duas da tarde e penso em toda essa energia vital que ignoramos todos os dias mas que nos deixa vivos- esse pouco de sol, essa luz que está fraca mas que ainda não apagou. Nunca apaga.

3 comentários:

  1. nao apagou ,nunca apaga..
    que lindo!!
    beijO//voltareiii ^^

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  2. Não apaga...e por vezes o fato de estar tão fraca mas não apagar é frustrante...mas apesasr de reclamar tanto...somos seres que tem sorte por poder olhar o céu todos os dias,por podermos sentir o vento nos nossos cabelos e por ouvir o barulho da chave na fechadura e por saber que teremos descanso nem que seja por algumas horas.


    Viver é lindo apesar de toda a dor.

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  3. que lindo teu texto...
    realmente as coisas passam e a gente prossegue [com nossas cicatrizes, mas prossegue...].

    adoro ficar de bobeira no sol, principalmente no outono. é uma nostalgia boa...

    beijos!

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